Cruzadas

Quando você cruza as pernas
O mundo desaba
Entra em movimento tectônico
Abala as estruturas do bombodromo
Do sambódromo...
As arquibancadas do Maracanã balançam, sambalaçam!
Eu perco a voz, abafo qualquer idéia
Apago o cigarro... Ou acendo outro!
Tomo calmantes...
Gaguejo, perco os passos simétricos,
desajeito notável
Quando você cruza as pernas
Sinto-me um Deus
Super-homem versão carioca
Versão baiana...
Super man, super astro, super pernambucano
Super... Qualquer coisa!
É que perco o raciocínio
as palavras certas
o vocabulário e as rimas perfeitas
Quando você cruza as pernas!
Faz-se circo armado no centro de meu corpo
com leões soltos
avançando para cima da platéia desesperada!
O circo pega fogo,
globo da morte,
trapezista perdendo o equilíbrio
picadeiro caindo
Quando você cruza as pernas!
A poesia perde censura
perde as rédeas, estrofes...
E corre solta
que nem cavalo selvagem desembestado, sem direção!
Quando você cruza as pernas
O poema vira jogo de azar
enigma, palavras cruzadas,
as cruzadas medievais
Orquestra de frevo cruzada com boi bumbá
O garantido e o caprichoso se unem
Os anjos te veneram, te brechando
Quando você cruza as pernas.
E eu relaxo,
trago o ar, elevo ao ar meu corpo de 1.65
Sinto-me astronauta flutuando
sem força de gravidade
Sinto-me minúsculo inseto
vagando entre os pelos dourados
plantação dourada de trigo
de tuas pernas
Expressivas
Excessivas de tudo,
cruzadas.

Gamma