Wednesday, June 02, 2010

Reencontro com o mar do Janga

Esse mar, quase morto
Já foi mais azul
Já perdeu o seu brilho
A sua juventude
As suas cirandas
As suas conchas nas areias
Mariscos, corais...
Sua água salgada
já foi mais límpida
A areia mais branca
E a praia mais ampla
Mas ainda dá para desenhar corações em suas areias
Nomes de amores platônicos
riscados em suas areias...
e apagados por suas eternas ondas
Respirar o iodo desse mar
traz paz
lembranças
coisas que quis ser e nunca fui
Projetos arquitetados
esquecidos no cemitério do peito
Um cemitério de sonhos juvenis
enferrujando no fundo desse mar
Esse mar triste
testemunha de muitos beijos salgados
de muitas festas pra Iemanjá
de muitos luais
de muitas tentativas de suicídios
de redes de arrastos
partidas de pescadores
saudades
Praia leito de sexo
Hoje o mar sou eu!
Por uma tarde ser esse mar
frio e mórbido
tranquilo e seguro sem porto
Um reencontro com o mar
Esse mar quase sem praia
Esse mar mutilado
Troca de lembranças, nada mais
O mar me faz cobrança daqueles sonhos
esquecidos em sua profundidade

Gamma
dezembro, 2009