Monday, September 27, 2010

Declaração número dois


Escrevo versos
mergulho em canções
tem dias que
sou povoado &
metrópole populosa
Mas as vezes
sou aquele satélite
no espaço sem direção
ou a rota
dos astronaufragos
flutuando inocentes
aprisionados na órbita
desejando aeroportos &
portos
com o olhar perdido
pendurado
no horizonte dos sonhos
usados &
semi-novos
Finjo ser
quem não sou
atuando de mocinho
no cinema
Sou mil e uma cena
Porque de outro jeito
a vida
não vale a pena

Mergulho
de ponta no mar
Atravesso rios
Embrenho nas matas
Pego as estradas
Projeto poemas &
roteiros
desconsertados sem rimas
na fumaça das cinzas
dos restos, das sobras, das sombras
Deito no telhado
só pra apontar estrelas
& naves
espiando a terra
eu grudado nela
pela força da gravidade
meu crime grave, tenor
julgado pelo maestro
da orquestra sinfônica
do destino
clandestino
Tenho incerteza plena
Porque de outro jeito
a vida
não vale a pena

Traço mil objetivos
Atinjo
apenas trezentos
Experimento
como cápsula
todos os sentimentos.
Quero ser tudo,
e no final não sou nada.
Nego ser poeta
Porque poeta é muito sonhador
vive no mundo da lua...
de São Jorge &
Ogum
Mas no fundo,
sou assim
poeta...
Mato um mosquito por dia
pra fazer o que amo
não só um
mas uma centena
Porque de outro jeito
a vida
não vale a pena

Criei tantas bobagens
Tirei tantas passagens &
bagagens
escrevi tantos bilhetes
perfumados
em papel seda &
guardanapos
anotei tantos endereços &
telefones
em agendas guardadas
armazenadas nas gavetas do tempo
amareladas pelos grilos
da cabeça
queimei manuais de rotinas &
projetos
desprotegi frascos &
comprimidos
construí laços, e desfiz
recomecei e perdi
desagradei a gregos &
baianos
não respondi cartas
me cortei em farpas &
beijos
Fui único culpado
de minh’alma vacilar desarmada
nas mãos de uma mulher
Se viver,
já é o principio de morrer
não posso ter medo
de partir
de perder
sei que não posso...
mas,
tenho pavor!
como criança
com medo do monstro
do escuro
Vivo as grandes emoções
e a pequena(?)
Porque de outro jeito
a vida
não vale a pena

Depois...
disse que nunca fiz
nada disso
blefei entre tuas pernas!
Mas juro
sem cruzar dedos
que nunca fiz.
Se fiz e há testemunhas &
provas
para me desmentirem...
Eu tava dopado, então.
Fora de mim
ou com Exu na pele...
E se falei,
foi porque tava bêbado.
E que tudo isso,
é coisa de gente boba.
E ser poeta,
é viver em outra dimensão,
de ilusão.
Mas descobri apenas
Que sou poeta,
mesmo sem querer...
sou...
acho que sou
essa
ansiedade
imoral
obscena
É que de outro jeito...
a vida
não vale a pena!

Gamma

Caixa de cartas


Quem hoje te beija
Abraça
Quem te acarinha?
Sabe
faz tanto tempo...
Eu mesmo já estou golpeado
pelos anos
Nem recebo mais
declarações de amor do além
no telefone,
na caixa de cartas
Meus planos
não conectam mais ninguém
As novidades ficaram datadas
As noticias estão vencidas
O tempo devorou,
Fera imbatível
O tempo...
Não tenho mais
aquele rosto macio
E sim relevos
entradas sem saídas
que o espelho sincero
denuncia
Mas ainda escrevo alguns versos
na maquina de escrever
e não sonho
Os discos de vinis
trilha sonora dos verões
estão no porão
escuro e frio
como o sol nublado
que carrego comigo
Aquelas coisas que queria te falar
ficaram tão bem guardadas
que esqueci onde guardei
perdi até as chaves
Tu não es mais a mesma
Está vacinada
de homens como eu
incertos,
Mas sinto que tu sonhas
e suspende uma estrela acesa
teu standart
que ainda ilumina
meus umbrais
escuros e
frios
Gamma

Friday, September 10, 2010

Beleza ou ventre livre


Tua beleza muda sentidos
Guia a rota do viajante
do rio Negro
Cor negra dos teus olhos
Petróleo
riqueza preta de tuas pupilas
dois lagos negros
Tua beleza
jorrando
quente
em meu corpo
aliviando a saudade
Teu olhar negro
que ilumina minha estrada
Tua beleza vaza
como informação valiosa
guardada as sete chaves
vazada no jornal
segredo de estado
na boca do povo.
Tua beleza escorre
como luz fresca da manhã
escorrendo
pelas brechas da janela
iluminando minha sala
minha senzala
meu porão escuro...
Tua beleza vacila
em minha boca
meus lábios
minha barba rude, marcando presença
em tua pele farta
perna
nuca
ventre
livre por lei
ao teu lado!

Gamma

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Rotas & outras

Estou sempre com você
Mesmo quando a poesia não tem rima,
regra
Mastigo o gosto de tua boca
acido
amargo doce
gosto indecifrável
que me faz voar em alta velocidade
pelas avenidas
Sinto a escuridão de tua boca fechada
As vezes é a escuridão de meus dias
sem luz
sem fogo
Meus dias em alta velocidade
no volume doze
Tua boca escancarada em uma risada
iluminada de sol
Teu hálito incensa minha cabeça
E descubro voando na moto
que a vida é algodão
doce,
dissolvendo instantaneamente
na tua saliva
Absorvi cruzando viadutos
e mergulhando em túneis
que a vida é flash de maquina
E passo os dias
& noites
assim
voando
despencado na moto
As vezes não sei o que fazer
“desplanejado”,
“desestrategiado”
Mesmo assim,
erro a mira na lua
e acerto em cheio na estrela
ou na sorte.
Perdido em tuas mãos
minhas mãos precisando das tuas
desajeitadas, procurando as suas...
Vês por outra
estou mais ao teu lado,
que do meu.
Meu rumo perdido
procurando o teu.
Sei que nossas rotas & outras se cruzam
ate por coincidência!
Para se achar as seis da manhã
casualmente
quando o dia da as caras
gargalhando
debochando
iluminando teus pelos dourados
acesos para mim!

Gamma